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quinta-feira, 1 de julho de 2010

Kate Evans – Amanhã será apenas hoje

O despertador toca e mais um dia começa, Kate já não sabe como começar. Perdida, ela apenas toma um banho, veste uma de suas roupas velhas e vulgares e vai para rua trabalhar. Mas porra, já? É... Kate não perde tempo, os vícios tomaram conta dela e sua única preocupação agora é se vai conseguir dinheiro suficiente para mais uma louca viagem, aquela essencial que a tira dessa merda de mundo e a leva para um espetacular, mas como dizem o que é bom, dura pouco e sempre tem suas conseqüências. Insatisfeita, naquele dia, Kate decidiu ir além, foi pro local mais movimentado do bairro e fez o que tinha que fazer, como ninguém ali sabia seu preço, então ela pôde cobrar mais caro. Kate saiu com pessoas de todos os tipos, cores e raças... Exausta, Kate foi para sua humilde casa, sozinha, numa das noites mais temerosas de Los Angeles, foi até o banheiro, se olhou no espelho e já não se conhecia mais, seus lindos cabelos negros e compridos cobriam sua face branca e seus lábios roxos como um defunto. Com um frio do caralho, Kate não sabia o que fazer, não tinha uma lareira, nem agasalhos, apenas um edredom pequeno e surrado... Não tinha família, amigos nem ninguém, era só ela e os clientes todos os dias.
“20 anos? Não é possível”. Isso é o que sempre diziam sobre
Kate, a vida a deixou com aquela aparência, de acabada, mal tratada, por mais que ela fosse linda, mas fazer o que? Que culpa tinha?Kate era valorizada por poucos... Dan participava disso, ele era seu cliente há anos, na verdade foi o primeiro, dês de que a família de Kate foi morta pelo seu pai alcoólatra. Ela foi a única que conseguiu escapar, imediatamente encontrou Dan e o pediu ajuda, foi o que a ofereceu uma proposta e tudo começou daqui. Dan a trata super bem, ela agradece a ele sempre por isso, diferente dos seus outros clientes.Kate sofre. Cada pessoa tem sua preferência e não aceita um não como resposta, ela que se vire para conseguir satisfazê-los. Tem aqueles com os gostos mais estranhos possíveis, em que geralmente Kate faz papel de masoquista... Mas Kate não se importava esse é o modo dela ganhar a vida, o modo de conseguir acordar todos os dias. Enfim, naquela noite, Kate percebeu que por mais que tinha se esforçado, não encontrara a satisfação, ela sempre queria mais e mais e tinha a esperança de que um dia, a vida dela iria mudar num piscar de olhos. Tremendo, Kate fumava seus cigarros acompanhados por uma pequena e velha garrafa de uísque, daqueles bem vagabundos, que ela guardou para quando chegasse o inverno, ela ter com o quer se esquentar e para completar ela ouvia sua música preferida, a música que ela escutava todas as noites, a música que entendia ela, que dava forças pra ela, a música perfeita: a faixa dois do disco “American IV: The Man Comes Around” do Johnny Cash (que aliás é um cover de Nine Inch Nails
). Alí, diante de seus olhos grandes com cílios volumosos, se passava mais uma noite na vida de Kate, e assim, lágrimas e lágrimas corriam sobre sua face.
Amanhecendo, o sol tomou conta de sua casa e Kate na mesma situação. Ela não dormiu, não comeu e se quer levantou de onde estava, passou àquelas horas ali, sentada, coberta pelo seu edredom, embriagada.
Mas ela não podia continuar assim, devia ir trabalhar. No banho,
Kate chorou mais, ela podia observar todas as suas cicatrizes e hematomas que seu pai havia deixado. Com ódio, Kate saía todos os dias, na esperança de encontrar com ele e poder fazer-lo pagar por tudo que ele fez a ela e a sua família.
“Hoje é quarta-feira... Dia de ver o Dan” Pensa
Kate. Animada, ela foi até um mercadinho próximo a sua casa e comprou uns pães e um suco. Parece bom, poder tomar um café da manhã, mas quem disse? Isso servia como todas suas refeições do dia. Saindo de lá, Kate encontra com Dan e vai para casa dele. Dan, já está ficando velho, já dá para reparar rugas em seu rosto, fios de cabelos brancos tomando conta de sua cabeça e seu cansaço e indisposição para tudo, mas mesmo assim ele fica ansioso todas as semanas, ele sempre quer aproveitar o máximo que conseguir. Chegando lá, eles são surpreendidos por dois assaltantes, que imediatamente colocam armas sobre suas cabeças e injetam uma boa dose de heroína nos dois. Os dois apagam, depois de horas, Kate acorda desesperada, nua e toda suja de sangue, eles a estupraram. Cambaleando ela sai pela casa procurando Dan, o engraçado é que ela não o achou por inteiro, partes do corpo dele estavam espalhadas pela casa inteira. Kate desamparada tremia loucamente à busca de uma solução. Como esperado ela não encontra. Ela pega uma bolsa de viagem e coloca tudo de mais valioso que restou, o que mais necessita e vai embora. Naquele dia, ela sabia que nada mais estava esperando por ela, e se perguntava por que tudo aquilo tinha que acontecer. Após o trauma Kate passou dias e noites trancada em casa, sem dinheiro, sem comida, apenas drogas e drogas, era o que a sustentava.
Descrente, ela não pensava mais, não agia, não falava.
Mas um belo dia (talvez nem tão belo assim)
Kate se levanta e decide ir à luta. Preocupada, ela vai até o posto de saúde mais próximo e faz os testes para doenças sexualmente transmissíveis, ela precisava fazer, os sintomas estavam cada vez mais fortes e cada dia a mais ela sentia que estava chegando seu fim. Embora ela nunca tivesse se preocupado com isso antes. Está pronto, agora só falta chegar o amanhã e ela receber os resultados.
Ainda drogada, ela se levanta e vai até o espelho do seu banheiro, ela já não vê a mesma pessoa de antes, seus cabelos estavam com uma aparência de sujo, seus olhos em s de negros estavam vermelhos fogo, seu rosto já não apresentava mais inocência e seu corpo cada vez pior, assim não conseguiria mais clientes, isso se ela quisesse passar por tudo aquilo de novo. Mas a necessidade era muita, no banho, ela percebe que a quantidade de água foi diminuindo até acabar, não tinha telefone e mais uns dias também não teria energia. A situação estava tensa. Ainda ensaboada,
Kate veste a mesma roupa do dia anterior, já que não tinha como lavar às outras e vai até um hospital público, confirmar o que ela já sabia. Kate não quer mais voltar pra casa, ela queria morrer naquele momento, sem saber que seu corpo já estava perdendo suas defesas por causa da AIDS, deixando assim, mas fácil o caminho para a morte. Mas o que a impedia de deixar o mundo era a vingança.Kate vai até sua antiga casa procurar pistas para descobrir onde seu desgraçado pai estava, por um lado foi bom. Ela teve lembranças boas de seu passado, de quando ela não passava de uma criança com sua família feliz. Ela se lembrou de momentos com sua irmã caçula e seu irmão que ainda era bebê, em um velho balanço que tinha no fundo do quintal. Lembrou de como a sua mãe penteava os seus belos fios de cabelos, com a maior delicadeza e amor que qualquer mãe tem. Mas como eu disse o que é bom, dura pouco. Kate se lembrou do pior dia da vida dela, na sala de estar, ela reveu a cena em que todos morriam. Saiu correndo aos prantos para o maldito quarto onde seu pai dormia, achou uma caixa com coisas dele, documentos, fotos e até uns endereços e telefones de parentes distantes. É lá que ela iria procurá-lo. Mas pra que ela chegasse lá, necessitava de dinheiro, então Kate volta a sua vida e encara mais uma noite de programa. Em um novo “point”, Kate fez amizades. Ela conheceu Abbie, uma linda moça magra, loira dos olhos verdes, com uma pele linda e quem olham assim nem acredita que ela entrou no “ramo” e Cindy a mais famosa, a mais procurada por todos os homens em que ali frequentavam. Kate e Cindy fizeram de tudo para convencer Abbie a sair dessa vida, mas ela teimosa, dizia que não tinha nada a perder. Infelizmente durou pouco. Fazia uns meses já que Kate tinha voltado, ela diminuiu o uso das drogas para poder sobrar mais dinheiro e quando batia vontade era só se lembrar de tudo, que a vontade passava. Na noite de 31 de Dezembro, Kate, Abbie e Cindy estavam animadas, era uma das noites mais movimentadas, geralmente ganhavam a quantidade que elas ganham em um mês. Na metade da noite, Kate já tinha quase todo o dinheiro, faltava pouco, e logo aparece um carro cheio de adolescentes bêbados, a procura de três mulheres para se divertirem e comemorarem a maioridade de um dos seus amigos. As três topam na hora. “Que mal esses garotos podem nos fazer?” Elas pensaram. Então entraram no carro e se divertiram o resto da noite. Porém Kate não contou seu segredo nem a amigas nem a eles, nesse tempo todo, ela saiu com dezenas de homens e transmitiu AIDS para todos eles, ela não se importava.
No outro dia de um novo ano,
Kate foi até a casa de Cindy se despedir, ela iria partir a procura do pai. Cindy estava triste, fora de si e deu à má noticia para Kate. Ela contou que Abbie após aquela noite tinha desaparecido e encontram o corpo dela em uma estrada muito distante. As duas se arrependeram, deviam ter ido além para impedir Abbie. Então Kate teve uma recaída. Ela saiu imediatamente e voltou para casa de Cindy com um terço do seu dinheiro em drogas, e ali se passou mais um dia de sua horrorosa vida. Para completar o dinheiro novamente, Kate vende seu precioso disco, com o coração na mão ela se desfaz dele.
Após completar o dinheiro ela vai de
metrô a metrô em busca da cidade de seus parentes distantes. Ao chegar ao ponto final ela telefona para um dos números que encontrou e escuta uma voz de mulher idosa, uma voz rouca e singela dizendo “alô”, suas mãos começam a tremer, ela temia que aquela era sua avó paterna que nunca tivera conhecido. Ela conta a situação para a mulher e quando percebe está falando sozinha, ela havia desligado o telefone. Faminta, Kate faz uma de suas melhores refeições da vida, depois de anos ela estava satisfeita. Necessitando de dinheiro, Kate vai para as ruas novamente, e dessa vez encontrou um rapaz muito bonito só que achou o rosto dele muito familiar, mas mesmo assim, ela saiu com ele, eles conversaram um pouco, ambos estavam desiludidos e revoltados, após um contar a história para o outro eles repararam que estavam falando da mesma pessoa. O seu pai. Kate então descobre que aquele era um irmão paterno também desconhecido e como já tinha reparado certa semelhança, ficou convencida.
Ele então leva
Kate a sua casa e a mostra os seus outros irmãos. Ela fica surpresa, seu pai já tinha outra família, porém ele os abandonou uns dias antes da ligação. Kate o pede ajuda, mas seu irmão rejeita, disse que jamais iria se envolver nisso e que seu pai já havia causado grandes problemas. Kate insiste então ele a expulsa de sua casa. Kate vai embora revoltada, era tanta coisa nova que ela estava descobrindo, mas que não a levava em lugar algum. Enfurecida porque ao menos descobriu o nome de seu irmão, Kate passa a noite na rua, comprou umas bebidas e dormiu no primeiro cantinho que encontrou. No outro dia, ela tomou um banho, em um daqueles banheiros comunitários que ali havia. Kate ficou aliviada, estava precisando. Seu corpo cada dia pior, seu rosto tinha perdido suas expressões, um sorriso? Fazia um tempo que não aparecia.
Passaram-se alguns dias e em todos eles
Kate foi à procura de seu pai. Passou todas essas noites em ruas escuras e perigosas, foi assaltada varias vezes, mas isso não conta, porque Kate não tinha nada para ser roubado. Nesses dias ela começou a sentir uma sensação estranha, ânsias de vômitos se tornavam cada vez mais frequentes. Kate já imaginava o que podia ser, mas não queria acreditar. Sim, ela estava grávida, não tinha mais duvida, ela fez o teste, só faltava descobrir de quem. Kate fez seus cálculos e percebeu que o ultimo com quem teve relações sexuais, se encaixava perfeitamente na data, era ele, o seu irmão paterno. Kate não acreditou, não era possível, mas uma vez a sua vida desmoronava diante de seus olhos, ela não sabia o que fazer nem como cuidar dessa criança. Kate ao menos tinha uma casa. Como sua única opção Kate retorna a casa de seu irmão e conta a novidade (ou a desgraça), ele fica surpreso. De primeira ele achou que aquilo tudo não passava de uma mentira inventada por Kate, mesmo que ele tenha a conhecido há pouco tempo, achava que ela seria capaz de qualquer coisa para conseguir o que queria. E ele não estava errado, mas mesmo assim, pensando melhor com o tempo ele acabou acreditando que fosse possível e percebendo que também tinha “culpa no cartório”, assim, aceitou assumir e daí em diante Kate passaria a morar lá, tendo acompanhamento e apoio por Keith (ela finalmente descobrira seu nome).
Mas
Keith disse que teria umas condições. A primeira é que ela teria que esquecer essa história de se vingar do pai deles, a segunda é que devia largar totalmente as drogas e a terceira era que ela tinha que recomeçar a sua vida. Kate aceita. O tempo vai passando e ela vai melhorando, estava tomando todos os remédios necessários para o tratamento da AIDS e para sua gravidez. Kate sentia que tinha uma família com Keith e seus outros irmãozinhos, um família não muito comum, mas não deixava de ser uma.
Meses se passaram...
Numa manhã linda e harmoniosa,
Kate levanta de sua cama com uma dor insuportável, ela sentia umas pontadas agonizantes que não conseguia explicar. Kate estava com o rosto pálido e ao se olhar no espelho, se lembrou de como era em Los Angeles. Kate começou a ter complicações na gravidez. Ela correu imediatamente para o hospital em que Keith trabalhava, e pediu para ser atendida urgente. Após fazer vários exames, preocupada em perder o bebê, Kate andava rapidamente pelos corredores do hospital esperando alguma noticia. Então ela é surpreendida por seu médico e Keith, eles a pedem para se acalmar e começam a dizer que o bebê está bem, apesar da AIDS que ele contraiu de Kate ele não apresenta nenhuma anomalia nem deformação e é uma menina, até agora boas notícias, mas Kate começa a se questionar porque então, Keith estava com os olhos cheios de lágrimas e aquela expressão facial de desespero. Eles também a dizem que o bebe nascerá prematuro e que Kate corre um risco de 95% de chance de morrer no parto. Era ela ou o bebê. E quem ainda pergunta? Kate diz que vai ter o bebe. Agora Kate não tem com o que mais se preocupar, seu parto seria daqui a uns dias e sua vida estava completamente arruinada.
Ela então vai para as ruas e assalta uma idosa indefesa, com aquele dinheiro ela comprou bebida suficiente para deixá-la bêbada até o dia do parto e com o que sobrou,
Kate comprou novamente seu disco de 2002 do Johnny Cash, ela necessitava escutar “Hurt” sua música predileta novamente antes de morrer.
E na decadência foram os últimos dias de
Kate...
Chegou o dia esperado (ou nem tão esperado assim),
Kate se encaminhou para o hospital, pois seria uma cesariana, mas antes ela faz dois pedidos a Keith. Kate pede para Keith comprar um aparelho de som, levar ao hospital e na hora do parto, colocar a sua música e o outro era pra ele encontrasse o seu pai e o levasse lá.
As horas foram passando e o nervosismo de
Kate só aumentava mais, ela só começaria o parto (a sua morte) na hora em que tudo estivesse certo. Keith chegou a tempo, ligou o aparelho de som e colocou sua música, os médicos começaram a se preparar. Kate tinha pouco tempo antes de dormir com a anestesia e não acordar mais. Infelizmente, esse pouco tempo acabou e Keith ainda não tinha aparecido com o seu pai, ele estava do lado de fora da sala e não queria entrar. Aplicaram a anestesia em Kate, Keith e seu pai entram na sala, ela ainda consciente faz Keith jurar que vai tomar conta do bebê, que se chamaria Nancy, e com isso o tempo se passava, com a voz devagar e baixinha Kate disse para seu pai que o odeia e sempre o odiou, que deseja que tudo de ruim aconteça a ele, o proibi de fazer parte da vida de Nancy, conta que ela só conseguiu viver até hoje porque queria se vingar e canta um pedaço da música, “and you could have it all; my empire of dirt, I will let you down, I will make you hurt...”. Kate fez seu pai chorar. E a última coisa que ela sentiu foi uma lágrima que caiu sobre seu rosto e foi escorregando devagar até seus lábios gelados.

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